FÓRUM BUS
Renovações
dos sistemas são constantes com licitações. Mercado de usados se torna cada vez
mais restrito e competitivo. Ônibus com boas condições têm sido encostados. Eles
não poderiam ter utilidade em outros sistemas e
serviços?
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O
ano de 2011 foi recorde em toda a história da indústria de ônibus no
Brasil.
De acordo com
balanço da Fabus, Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, foram feitas no
ano passado 35 mil 531 carrocerias pelas suas associadas: Marcopolo, Ciferal,
Comil, Indusscar, Irizar, Neobus e Mascarello. A maioria foi para a configuração
urbana.
São ônibus
novos que aposentaram os que já estavam em circulação, num número maior que o
que se via costumeiramente no setor. Além disso, algumas renovações se trataram
de antecipações, ou seja, ônibus que ainda poderiam rodar por mais um tempo,
respeitando os limites estipulados pelos poderes públicos locais, que acabaram
deixando os serviços. E há ônibus que oferecem condições de uso, inclusive com
acessibilidade, mas que estão nos pátios das revendedoras, perdendo valor. O que
fazer com eles?
No Fórum
2012, o Canal do Ônibus, portal especializado no setor de transportes de
passageiros, se propõe a discutir, com a participação de diversos agentes
envolvidos, desde passageiros, frotistas, revendedores a fabricantes, este
aspecto pouco citado neste segmento tão importante no dia a dia das pessoas e no
desenvolvimento econômico, urbano e social.
É necessário
entender, no entanto, entender os motivos pelos quais as renovações de frota têm
sido tão intensas.
QUESTÕES
AMBIENTAIS
Um fato
marcante foi antecipação da renovação da frota feita pelos empresários de ônibus
diante da mudança dos padrões de emissões de poluição.
Até o mês de
dezembro de 2011, as fabricantes seguiam os padrões baseados nas normas
européias Euro III. A partir de janeiro, passou a vigorar a fase P 7 do Proconve
- Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, com
base nas normas Euro V.
Os ônibus
poluem bem menos: 60% de redução de óxidos de nitrogênio (NOx) e 80% de
materiais particulados.
Mas para
atenderem às novas exigências de emissão, os ônibus precisam de novas
tecnologias que deixam os veículos até 15% mais caros.
Para
escaparem destes preços mais altos, no ano passado, os empresários correram para
as compras e mesmo os ônibus que deveriam ser comprados neste ano ou no próximo,
já foram adquiridos em 2011, por valores menores. A produção dos ônibus Euro III
foi proibida a partir de janeiro, mas a comercialização dos chassis em estoque
foi permitida até 31 de março deste ano. Daí, a discrepância entre os números de
produção e de emplacamentos (que foram maiores) no primeiro trimestre deste
ano.
Algumas
mudanças na operação dos modelos dos ônibus menos poluentes também deixaram os
empresários pouco confiantes em relação ao início do vigor das novas
tecnologias. Uma delas é a necessidade do uso do ARLA 32 (Agente Redutor Líquido
Automotivo), feito com 32% de uréia industrial, um fluido que é colocado num
reservatório separado do tanque do diesel. O ARLA 32 provoca uma reação química
no sistema de escape e transforma o óxido de nitrogênio, que é cancerígeno, em
nitrogênio puro, um material encontrado no ar naturalmente.
Para os
empresários, o ARLA 32 é visto como um custo a mais. As fabricantes dizem que os
motores Euro V são mais econômicos, o que "compensaria" os custos maiores com o
ARLA. Isso talvez se aplique nos grandes centros. Frotistas e transportadores
autônomos dizem que o produto está em falta sim nas regiões mais afastadas
destes centros. E como em todo "bom e velho" capitalismo, quando a procura é
alta e a oferta é pequena, os preços sobem. Há relatos de cobrança de até R$
7,00 o litro de ARLA, bem acima do valor do litro do diesel, mesmo o ARLA sendo
mais fácil de produzir e transportar que o combustível dos ônibus e
caminhões.
QUESTÕES
LEGAIS E LICTAÇÕES
Desde 1988, a
Constituição Federal determina que serviços como de transportes coletivos,
urbanos ou rodoviários, sejam regidos por contratos de concessão estabelecidos
após a realização de licitações.
Mas parece
que só agora os poderes públicos, pressionados pela sociedade e por órgãos como
Ministério Público, se atentaram ao fato.
Se a lei
fosse cumprida, a renovação das frotas urbanas seria feita gradativamente e os
impactos no mercado de usados seriam menores. Mas tudo ficou para os anos mais
recentes.
Para se ter idéia de alguns exemplos de grandes renovações entre 2010 e 2011:
- Mauá (SP): 86 ônibus zero quilômetro com a entrada de uma nova empresa na cidade
- Sorocaba
(SP): 179 ônibus novos previstos também com um novo consórcio
operador
- Diadema
(SP): 194 ônibus novos com os inícios da operação de duas novas
empresas.
- Curitiba
(PR): 557 veículos novos, desde o ano passado, na capital paranaense e nos
municípios da região metropolitana, que fazem parte da RIT - Rede Integrada de
Transporte.
- Manaus
(AM): Foram colocados desde o ano passado 831 ônibus novos e o número deve
chegar a 944 veículos.
Outros
exemplos não faltam.
Além da
colocação dos ônibus novos, as licitações exigem um tempo menor de vida útil dos
veículos, que dependendo das cidades varia entre 10 e 15 anos de idade
máxima.
A questão é
polêmica entre o mercado e os próprios operadores de transportes.
Dependendo do
uso do ônibus, em 10 anos, o veículo pode estar demasiadamente desgastado. Em
outros casos, o ônibus pode apresentar boas condições de conforto e segurança,
como são os exemplos dos veículos que operam em corredores exclusivos, com
pavimento adequado.
Mesmo assim,
estes ônibus têm sido encostados.
NÃO SÃO SÓ
URBANOS
Quem pensa
que a limitação de idade dos ônibus atinge mais o segmento dos veículos de
configuração urbana, não acompanha a movimentação do mercado em já substituir
ônibus rodoviários de forma mais marcante.
Além das
renovações necessárias, as empresas estão de olho na licitação de 1967 linhas de
ônibus interestaduais e internacionais promovidas pela ANTT - Agência Nacional
de Transportes Terrestres.
Apesar de as
empresas divergirem de vários pontos do certame, inclusive sobre a quantidade de
frota determinada pela agência do Governo Federal, tida como insuficiente pelas
companhias de ônibus, as empresas de olho nos 18 grupos e 60 lotes que o sistema
será dividido já se movimentam e a procura por veículos novos também mostra um
sinal de aquecimento do mercado de rodoviários.
O Governo
Federal estima que suprem o sistema de ônibus rodoviários 6 mil 152 ônibus com
mais 639 de reserva. As empresas alegam que com menos de 10 mil veículos não é
possível atender a demanda.
Mas esta
polêmica à parte, a ANTT estipula idade média de 05 anos para a frota e máxima
de 10 anos.
Hoje, a idade
média é de cerca de 15 anos e há ônibus com aproximadamente 30 anos de
uso.
Um estudo da
Fundação Getúlio Vargas mostra que metade da frota de ônibus em circulação nos
serviços rodoviários interestaduais e internacionais, para cumprir a idade
exigida pela ANTT, caso a licitação realmente saia do papel este ano, precisaria
ser trocada.
Isso
significa cerca de mais de 4 mil ônibus rodoviários nas estradas
brasileiras.
Muitos
veículos, portanto, serão encostados.
COPA,
OLIMPÍADAS E MODERNIZAÇÃO:
Mas as
questões envolvendo as renovações das frotas de ônibus não se limitam às
antecipações por conta do encarecimento dos valores dos veículos com novas
tecnologias, legislações e licitações, assuntos internos do País.
A renovação
dos ônibus brasileiros tem uma dimensão internacional.
Em 2014, o
País vai sediar a Copa do Mundo em 12 cidades. Em 2016, é a vez do Rio de
Janeiro. E o Brasil não pode fazer feio para o mundo.
O cidadão
brasileiro necessita de mobilidade com qualidade independentemente do o País
sediar um evento internacional que dura cerca de um mês.
Mas é
hipocrisia dizer que a mobilidade está sendo pensada apenas para o cidadão. É
para Copa mesmo. O legado? Espera-se que seja o melhor para o cidadão e não
obras que depois sejam subaproveitadas, mesmo com tantos investimentos, enquanto
a maioria da população precisa de meios no mínimo dignos para se
locomover.
De toda a
forma, diversas cidades estão investindo em sistemas de corredores de ônibus
modernos, do tipo BRT - Bus Rapid Transit, que comportam ônibus de grande porte,
como articulados e biarticulados.
Além da
substituição dos ônibus mais antigos, estes veículos reduzem o número de
veículos em operação, o que traz benefícios para o meio ambiente, com menos
emissão de poluentes, e para o trânsito. Em corredores, os ônibus não ocupam os
lugares dos carros e por não ficarem presos no trânsito, menos ônibus conseguem
fazer mais viagens.
Além disso,
um ônibus articulado ou biarticulado pode substituir até 04 ônibus
convencionais.
São mais
veículos aposentados.
UMA SOLUÇÃO E
UM PROBLEMA
A renovação
da frota de ônibus de forma mais intensa, embora que ainda em várias regiões, a
frota é bastante sucateada, traz diversos benefícios não só aos passageiros,
mais a toda a comunidade:
- Ambientais: os ônibus novos são menos poluentes em diversos aspectos. Os movidos a diesel, hoje usam o combustível do tipo S 50, que possui menos partículas de enxofre. A tecnologia atual, Euro V, com o uso do Diesel S 50, reduz significativamente a emissão dos cancerígenos óxidos de nitrogênio e materiais particulados. Há também ônibus com tecnologias alternativas ao petróleo, como o diesel de cana de açúcar (Mercedes Benz), biodiesel (Volkswagen), etanol (Scania), elétrico híbrido (Volvo ou Eletra) e o trólebus que foi modernizado (Eletra). Em Curitiba, por exemplo, o maior ônibus do mundo, os Ligeirões Azuis Biarticulados, tem como fonte de energia 100% de Biodiesel. A poluição nas linhas operadas pelos Ligeirões caiu 63% no último ano, segundo a Urbs, Urbanização de Curitiba S.A., que gerencia os transportes da cidade de Curitiba e da região metropolitana.
- Conforto e
Segurança: Os novos ônibus seguem os mais modernos padrões e exigências legais
de conforto e segurança, que vão desde motores eletrônicos e sistemas de freios
mais eficientes, a saídas de emergência dispostas de forma melhor, e há faixas
refletivas ao longo da carroceria que melhoraram a visualização dos ônibus por
parte de outros motoristas e pedestres, principalmente à noite. No quesito
conforto, os corredores oferecem melhor circulação interna e a distância entre
os bancos é maior, oferecendo melhores condições aos passageiros de maior
estatura.
-
Acessibilidade: Todos os ônibus que saem de fábrica devem oferecer equipamentos
que permitem acesso de passageiros que usam cadeira de rodas, como elevadores em
ônibus com chassi comum ou rampas em veículos de piso baixo ou cujo sistema
permite que ao assoalho fique na mesma altura dos pontos, como ocorre há mais de
20 anos as estações-tubo de Curitiba e que deve ser implantando em outros BRTs
que devem ser inaugurados até a Copa. Os ônibus também possuem espaço para
cão-guia acompanhante de pessoas com limitação visual.
- Agregar
Valor ao Ambiente Urbano: Os ônibus fazem parte do ambiente urbano e do
cotidiano das cidades e estradas, mesmo que as pessoas conscientemente não se
atendem a estes detalhes. No entanto, até para quem está num carro de passeio de
luxo, parar no trânsito ao lado de um ônibus novo e limpo e ao lado de um
veículo velho e mal conservado a sensação é diferente. Estudos comprovam isso e
as pessoas não precisam entender modelos de chassi e carrocerias. Mas qualquer
um saber definir um veículo sem condições.
Assim as
renovações de frotas trazem ganhos, acompanhadas claro de planejamento
operacional, prioridade ao transporte público e ações de capacitação de
motoristas, cobradores, fiscais e outros profissionais de
transportes.
E OS ÔNIBUS
BONS QUE ESTÃ ENCOSTADOS?
Mas para
cumprir todas as exigências legais, de licitação, de mercado para antecipação de
frota por causa da mudança dos padrões de redução de poluição, e de modernização
de sistemas de mobilidade, muitos ônibus ainda em condições, inclusive com
acessibilidade e ofertando conforto e segurança, têm sido
encostados.
O que fazer
com estes ônibus? Como anda o mercado de usados? As empresas estão revendendo
com facilidade ou mais dificuldades os ônibus?
Estas e
outras questões importantes sobre este aspecto dos transportes, o Canal do
Ônibus, portal especializado no setor, se propõe a discutir.
Todos podem
participar: passageiros, empresários, poder público, admiradores de ônibus,
revendedores, representantes de montadoras, de encarroçadoras e toda a
sociedade.
As respostas ao questionário vão fazer parte de uma levantamento destinado ao setor e vão resultar numa reportagem especial. Por isso, sua participação é essencial.
Acesse: http://noticias.canaldoonibus.com.br/component/rsform/form/3-a-frota-de-onibus-usados-no-brasil.html
FOTO: As renovações de frota estão cada vez mais intensas
em todo o País. Diversas cidades têm trocado boa parte dos ônibus. Só em
Curitiba, desde o ano passado a previsão é de 557 veículos zero quilômetro para
o sistema da Região Metropolitana e Capital, como anuncia a propaganda no vidro
traseiro de um deles. As renovações já se intensificam também no segmento de
ônibus rodoviários, com a maior licitação de transportes interestaduais e
internacionais da história do País, promovida pela ANTT. As renovações têm
trazido ganhos não só aos passageiros, mas ao meio ambiente e para o bem estar
urbano e nas estradas. Mas por conta de antecipação da troca de frota , devido a
mudança de tecnologia de emissão de poluição que deixou os ônibus este ano mais
caros, e para seguir a legislação, diversos ônibus em bom estado e já com itens
de conforto e acessibilidade tem sido encostados. O que fazer com estes
veículos? Eles podem ter alguma utilidade em cidades menos providas de recursos
ou mesmo para fins sociais? Foto: Adamo Bazani.
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